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25/04/2019
"Não quero emprego, quero trabalho!"

Esta é uma frase que ouvi de um jovem recém-formado.

A cena é mais ou menos esta:

O CEO de uma multinacional ao premiar o vencedor de um concurso para jovens recém-formados entrega um prêmio em dinheiro e diz ORGULHOSAMENTE: “além deste merecido prêmio em dinheiro você pode passar na próxima semana no nosso departamento de recursos humanos com a carteira de trabalho que nós iremos contratá-lo.”

Este CEO com surpresa maior do que o orgulho, ouve o seguinte do recém-formado: “mas quem disse que eu quero um emprego, eu quero trabalho! Se a sua empresa tem interesse na minha capacidade, expertise, posso fazer uma proposta de trabalho e vocês me contratam por job.”

Observo que jovens de hoje, diferente de outras gerações do passado recente, querem trabalhar sim, mas não querem ficar presos a uma ou outra organização. Querem trabalhar por projetos, por algo que faça sentido para o seu propósito, que vejam valor no que estão fazendo, para si, para a organização para quem estão prestando o serviço e para a sociedade, com formatos diferentes na relação de trabalho.

O prazer, o orgulho, está no que estão fazendo, e não na empresa a quem “pertencem”.

Querem administrar sua agenda e seu tempo com maior liberdade, autonomia e independência.

Se ao encerrar um projeto, tiverem acumulado recurso suficiente e quiserem passar duas semanas viajando pela Espanha com amigos, fazendo um curso em Londres ou surfando na Australia, desejam ter independência suficiente para poderem fazê-los. Uma preocupação muito maior com o presente do que com o futuro.  

Os mais velhos, e me incluo neste grupo, talvez por termos sido educados por pais que viveram a 2ª guerra ou pós-guerra recente, tenham vivido momentos de escassez, onde se preocupar com o futuro, acumular recursos para eventualidades era extremamente importante. Preocupação que não faz parte desta última geração.

É verdade que este pensamento não é unanimidade, mas vem aumentando cada vez mais, portanto, como as organizações devem se preparar para isto?

Acredito que o primeiro passo é entendermos estas mudanças geracionais, aceitarmos que faz parte da humanidade mudar comportamento, ao invés de enfrentá-las achando que os valores dos mais antigos são o certo e este novo comportamento, estas novas atitudes estão erradas e devem ser erradicadas.

Não existe certo ou errado, são comportamentos distintos e que trarão consequências sim! Boas ou ruins não sabemos, vai depender de uma série de coisas. A minha percepção é que terão consequências boas e ruins, da mesma forma que a filosofia vigente até então.

Vejamos: dedicarmos a uma organização a vida toda poderia nos trazer estabilidade no futuro, acúmulo de bens e riquezas para uma maior tranquilidade na velhice. Ótimo! Mas a que preço? Talvez com perda da liberdade e da independência de viver o presente, perdendo oportunidades que a vida provavelmente ofereceu em inúmeras situações. Se valeu a pena ou não, vai depender de cada um.

E talvez o comportamento mais atual abra a possibilidade de vivermos o presente, aproveitarmos as oportunidades que a vida oferecer, mas trazendo riscos para uma velhice tranquila e equilibrada. Será?

Sugiro, portanto, não julgarmos, mas sim adaptarmos as organizações a este novo perfil da sociedade, afinal as organizações são constituídas por membros desta sociedade e serão eles que irão ditar as regras, será só uma questão de tempo para as novas gerações assumirem o poder. O que já é verdade em muitas startups que se tornaram empresas bilionárias com estrutura de poder e de organização com este novo perfil!

O segundo passo é pensarmos a organização, o escritório, com esta mentalidade, para atrair, motivar e manter estes jovens profissionais.

Parece-me que a maneira mais óbvia é oferecer a eles o que eles desejam. Se não de maneira tão ampla no princípio, pois isto demanda reorganização muito grande, mas parcial, para iniciar e ir se adaptando.

Se esta geração deseja liberdade, dê liberdade! Transforme o horário fixo de trabalho em horário flexível, cada um faz o seu horário. Quebre o paradigma local de trabalho, espaço fixo: prédio, sala, mesa... Ofereça local flexível, por exemplo, home office.

Como tenho dito: ao invés de cobrar presença física e horário, cobre resultados!

E para que se possa, de fato, colher resultados, evitar abusos e desrespeito, estes novos princípios demandam gestão do escritório.

Se o que motiva esta geração são propósitos, vamos identificar claramente os nossos propósitos e buscar profissionais alinhados com eles, pois daremos um grande passo nessa direção.

Outro fator motivacional importante desta geração é o sentimento de se sentir útil, de participação, de pertencimento.

Sendo assim, vamos oferecer isto também! Convidando todos, inclusive os mais jovens, a participarem de discussões, ouvindo suas opiniões, mesmo que algumas vezes, pela inexperiência, elas sejam pouco aproveitáveis. Mas, com certeza, gerarão trocas importantes para o time. Saiba que isto irá motivá-los, além de proporcionar um comprometimento com as escolhas e decisões. E outro subproduto desta iniciativa é o treinamento que se dá a estes profissionais, promovendo seu desenvolvimento. Fator também de interesse destes jovens.

Lembrem-se que as mudanças são contínuas, valem para esta geração, mas nada garante que valerão para a próxima ou mesmo para esta, daqui a alguns anos. Como disse Zygmunt Bauman: “A única coisa que podemos ter certeza é a incerteza.”

Para acompanharmos estas mudanças devemos estar sempre muito próximos de todos, ouvindo suas opiniões, seus desejos e anseios, entendendo-os, dando feedbacks para que eles também entendam a organização, e ajustando as estruturas de modo a manterem motivados e comprometidos, independente do formato da relação profissional estabelecida.

Todas estas iniciativas devem ser transparentes, internamente, para que todos que compõem o quadro de funcionários da organização/escritório tenham consciência e aproveitem. E para o mercado, para outros que se identificarem com estes valores, possam demonstrar interesse em participarem deste quadro.

E outro dia ouvi uma outra frase de um profissional: “Mas escritórios de advocacia são diferentes!”

Diferentes são mesmos! pois todos os diferentes segmentos trazem suas particularidades: instituições financeiras, como bancos, são diferentes de escolas, que são diferentes de agências de publicidade, que são diferentes do varejo etc.

Vejam que por muito tempo o varejo tinha a seguinte particularidade: para ter escala precisava de alto investimento. E então, as estruturas menores acabaram sendo vendidas para grandes conglomerados por não suportarem estes investimentos, até aparecerem startups de e-commerce e redesenharem todo o mercado. O mesmo está acontecendo com instituições financeiras! E por aí vai...

Estas novas organizações já trazem este dinamismo das gerações atuais.

Melhor ficar atento, fazer parte e ajudar a construir as mudanças do que ficar vendo a banda passar!

 

A BÓREA, consultoria especializada em gestão de escritórios de advocacia, é liderada por Mario Esequiel, que atua há anos no mercado jurídico, possuindo experiência em grandes escritórios de advocacia, e pode apoiar a gestão do seu escritório.

 

 



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